sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

I DO, I DO, I DO.

at this point, i am sure that i hate you
i hate your happy eyes, your round cheeks
your soft ears, your lovely tongue

i hate your mouth
slightly open during your sleep
your smooth (and messy) hair
your gentle arms, holding me close

o hate your laugh - oh god, it's the worst
it makes the sound of angels seem like crows
it makes my knees tremble
and don't let me start talking about the way
your hand passes through my back

i can't take
your skin
rubbing
into my skin

your breath
on my neck

oh god, i hate you so much
i certainly do

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Camisinha

Chega em casa às pressas, derrubando tudo, tira os sapatos de maneira condescendente e escorrega as costas pelo corredor - ofegante. Mal chegou no quarto e não aguenta nem tirar a camisa. Vergonhoso.

Beija o pescoço, puxa o cabelo, joga na cama. Esta manobra aprendeu faz tempo - nunca gostou de pornô, mas sempre assistiu comédias românticas demais. Ela olha, devorando seu corpo em cada pedaço. Está nervoso demais pra apreciar esse momento. Cansado. Será que se fizer sua performance rápido consegue fechar o relatório ainda essa madrugada? Só testando pra saber. Pula em cima dela e abre sua pernas. Beija, chupa, morde de levinho. Ela revira os olhos, mas ele desconfia. Tem vontade de parar tudo que está fazendo e perguntar se ela está tão fingindo tesão quanto ele. Mas permanece concentrado em seus movimentos giratórios. Minutos depois, o gozo.

Ela quer retribuir, mas sente preguiça. Diz que não quer, não precisa - até arrisca dizer que não gosta, mas seria mentir demais até pra ele. Alcança a gaveta e pega a bendita. Já percebe o olhar de recuo de que ojeriza o cilindro vazio de látex. Ela tenta adivinhar as palavras a seguir: "Não me dou bem com camisinha" - disse. Acertou em cheio. Abre no dente como quem tem marra e pressa. Não se discute.

Encaixa a embalagem na virilha e ele já começa a amolecer. Só pelo contato da borracha com a pele, o tédio incorpora suas partes de baixo. Pensa na reunião com o chefe, com o leite que pode estragar porque ainda não pôs na geladeira. E ela rebolando com as mãos, fazendo movimentos que em ocasiões normais o enlouqueceriam.

Todas as mentes presentes nesse quarto permanecem verdadeiramente sãs.

Sente o corpo dela se conectar ao seu e por alguns segundos aprecia a beleza da fornicação - corpos que se unificam em prol de um bem comum. Todas as lutas se batalham lá fora. Entre quatro paredes, se pede paz.

Não hoje.

Hoje não teve sinal de farroupilha. A sombra serpenteando a parede era puro exibicionismo. O vai e vem era quase cirúrgico, com métrica seguida à risca. Não havia muito o que se fazer. Ambos preferiram fingir que estava tudo bem e continuaram em frente - até alguém gemer mais alto e pedir rendição. Falsa diplomacia. Só queriam tomar um banho (separados, claro) e colidir as costas. Um dia, talvez com sorte, perceberão que não existe sequer ódio ali. O que há entre os dois é apenas um mero desinteresse omisso que gera um atrito cada vez maior. Uma ferida que não resseca.

Ela rola pro lado da cama e ele rapidamente vira pro escuro - tira a camisinha, enrola e joga na quina da parede.
Completamente seca.



Betim, MG.

Encerraram-se os ventos mornos. Olhei pela janela e esperei meu semblante mudar de cor, sorrir perante o passado. Minha boca esboçou nos cantos, nada além de efêmero. Aquele aperto misturado com a sensação cítrica de julho me deixou quente. Mas se dissipou na corrente de ar do ônibus.

Quando movia meus pés do lugar, era melhor. Se eu fechar os olhos, ainda consigo te ver com os olhos serpenteando o reflexo da televisão. Aquele filme meio imbecil, as cores da estante, a luz no rosto complacente com a nossa intensidade. Dava pra ter registrado em algum lugar - mas não queria perder alguns segundos olhando através da lente desenganada. O que é nosso, é nosso - foi nosso. Se deu a partir do momento que existiu. E existiu de maneira sublime.

Levanto e vou em busca de mais umas barras de sinal. Torço pra que os satélites torçam por mim, já que agora você se encontra mais longe do que quando olhei pra você por cima do ombro, indiferente. Queria te ligar, mas a imagem de mim mesma tropeçando em palavras e gírias bizarras me estremece. Esse ano já foi ruim o suficiente. Desisto e sento no banco mais próximo.

O dia ainda nasce enquanto outros passageiros fazem compras. Aqui, no meio do nada, ainda entendo como absurdo os preços que me cobram por um pingado e um pão tostado. Aqui não alcanço nada, quiçá qualquer tipo de nirvana. Dizem que o silêncio e o cheiro de mato acalmam a pior das mentes e acalentam a pior das perturbações. Só sinto vazio e vontade de ir em frente. Vontade de ter ficado. Fechar os olhos é sempre ruim quando você sabe exatamente o que vai encontrar no escuro.

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

RE: Cancelamento de Reunião

Eu parei de escrever. Sabe como é, falta de tempo. Me vem um assunto à cabeça, eu finjo que não é comigo porque preciso dormir. Quem sabe outro dia.
 Mas nunca tem outro dia. Até tem, mas eu tô ocupada demais fingindo que ele não existe, porque eu preciso dormir ao invés de ficar virando madrugada escrevendo por aí. Eu não tenho mais 15 anos.
O irônico é que eu ainda tenho 17.

Eu parei de escrever porque há muito tempo não me apaixono. Há muito tempo eu não sei o que é sentir aquela sensação morna no peito de êxtase, o zumbido no ouvido de felicidade - a única coisa que tenho escutado é o tec tec tec que eu faço no teclado enquanto respondo email. Pausa pra responder o cliente, pausa pra pegar café. Pausa pra respirar por cinco minutos e me convencer de que isso ainda faz sentido. Que tem que fazer, porque eu tô apenas começando. E volta o barulhinho - tec tec tec.

Eu parei de escrever porque isso não dá dinheiro, nem pra mim ou pra você, que lê tudo em um tom de prepotência e finge que não faz questão da minha ausência e a da minha caneta dançando por essas bandas. Eu parei de escrever porque eu me tornei uma excelente profissional em negligenciar meus sentimentos - porque sentir dói e eu não tenho tempo de apreciar essa dor me consumindo. Além disso, essa habilidade não cabe no lattes.

Eu parei de escrever porque a mesma pessoa que sentava em frente ao bloco de notas com a maior força de vontade do mundo há alguns anos atrás não existe mais. Ela também não escreve mais no ônibus porque volta dormindo. Porque anda cansada demais e escrever no ônibus agora dá dor de cabeça.

Eu parei de escrever porque tudo que eu sinto agora pode ser resumido em poucos caracteres, com palavras de cunho popular e sem apelar pra jargões de grandes poetas. Não é bonito. Não é artístico. Minha dor deixou de virar poema a partir do momento em que eu não consigo mais me enxergar poetisa. Minha condescendência cresce só de ler a palavra "poesia".

Eu parei de escrever porque eu preciso terminar de estudar pra prova que eu tenho amanhã, porque eu preciso terminar o trabalho de um cliente e consequentemente não tenho tempo de conhecer o amor da minha vida. E que os deuses me livrem de conhecê-lo agora - não vou ter tempo de sentir amor o suficiente.
Preciso ir. Eu nem devia ter ficado por tanto tempo. Meus olhos nem ardem mais; são só o peso das pálpebras existindo no meu rosto e registrando de maneira meio porca tudo ao meu redor. Tec tec tec. Ponto final. Enter.

Agora chega. Preciso descansar antes do próximo round com o relógio.

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

03/11/2015

Até hoje não sei dizer se o meu amor não correspondido foi pólvora pro seu ódio contra mim. Sinceramente, não sei. Só sei que eu gostei de você de uma maneira bem singular, visto que você era um ser humano um tanto quanto extraordinário. Mas não era o suficiente pra você. Nunca foi. E olha, a culpa não é minha. Você saiu na frente do sinal enquanto ele estava verde e eu pedi pra esperar, mas você não quis.

Achei esse rascunho, datado há exatamente um ano. Tive alguns flashes do seu rosto em ler. Até hoje esse sentimento permanece incompreendido, mas o guardo com um certo carinho. Você uma vez me pediu que te escrevesse, e sem querer eu já tinha escrito. Me desculpe o atraso.

Peróxido de hidrogênio

Sinal vermelho. O vestido encharcado até dizer chega. Os calcanhares em brasa. Por algum motivo, não se acha mais sapatos comuns, só estes tijolos de borracha com couro falso. Não molda com o pé, não amolece, não estica. Só entra o pé que quiser muito. E sofre pra ficar.
 Sinal verde. Atravessa mancando. O maior ato de fraqueza é mancar. É aquela dor exposta da maneira mais patética possível. Não é ruim o suficiente para ser admirada e nem irrelevante o bastante para ser escondida. Atravessa mancando, o sinal já nos segundos finais, piscando ritmado. Já era. Sinal vermelho de novo. Não se ouve o barulho do motor direito por conta da queimação nos calcanhares e da chuva.
Acorda com uma dor lancinante na cabeça. Parece que se passaram dias, mas devem ter uns 30 segundos que o corpo permanece ali, estirado no asfalto. O óculos voou longe, deixando rastros conforme quicava no chão. Enxergava embaçado, os olhos ardendo pela chuva. Agora tinha um cheiro que não dava pra identificar - e uma sensação morna na nuca. Era sangue. Já tinha empapado o vestido todo.
 Mandava sinais para que o corpo se movimentasse - não conseguia. A agonia de não conseguir se mexer era a pior que já havia experimentado. Lembrou de quando tinha 10 anos e tinha quebrado o braço. Ali, naquela mesma posição, de barriga pra cima, sem entender o que tinha acabado de acontecer. Sons eram quase inaudíveis, a única coisa que alcançava seus ouvidos eram ecos. Ecos de gritos, murmúrios. Sombras se projetavam acima do corpo, com suas cabeças vacilantes e olhos escancarados. Lembrou de como odiava essa predisposição humana pela tragédia. De como sempre era a única a não virar o pescoço enquanto o ônibus passava próximo a um acidente. Também nunca pensou em ser o acidente.
  A cabeça continuava morna, o contorno do corpo já era puro sangue. Só registrava vultos, mas nem prestava tanta atenção no exterior - estava perdida na própria cabeça, que agora latejava. Pensou em como há poucos minutos, planejava sair do ônibus, atravessar a rua e comprar um frasco de água oxigenada.  Que coisa mais ridícula. De todas as cenas de morte roteirizadas em sua cabeça, a mais infame seria a escolhida. Causa do óbito: morreu tentando comprar um frasco de água oxigenada.
 Alguém havia chamado a polícia, mas a mesma também não tinha muito o que fazer. Chamaram o SAMU, os bombeiros, sei lá. Outra coisa que a irritava era essa estupidez das pessoas, a ponto de chamar a polícia por conta de um acidente de trânsito. Polícia não andava com estetoscópio e anestesia. O mais próximo disso, talvez a cocaína.
 A linha entre conseguir prestar atenção no que estava acontecendo e se perder nas próprias vertigens estava cada vez mais tênue. A indignação se inflamava. Pretendia ir para casa e clarear os cabelos hoje. Era a única exigência que fazia: clarear os cabelos. No dia seguinte pretendia terminar o trabalho de um cliente; no fim de semana pretendia terminar os trabalhos da faculdade e na outra semana viajar. As passagens e os recibos de boletos pagos agora eram só uma massa de papel dentro da bolsa. Não enxergava mais nada. Os olhos fechados, a escuridão se tornava mais nítida e sólida. Quase física. Uma massa preta tapando sua visão por completo. Os sons se esvaecendo, os sentidos cada vez mais longe. Não sabia aonde iria agora. Passou o último mês tentando se convencer de que não existiria céu ou inferno. Que seria apenas o fim. Agora, queria saber para quem é que reclamaria por ter ido assim, tão de repente. Não estava na sua agenda.
19h35. Foi a hora exata da morte. Não deu tempo de chorar, de se arrepender ou sequer sentir gratidão. Não houve déjà vu. Apagaram as luzes, acionaram o botão mudo. O corpo enterrado com 3 dedos de raiz do cabelo aparecendo. Que lástima.

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

nosso diretor deixou você sem falas e eu, sem deixas

o que eu queria mesmo era te jogar na parede e me atirar contra qualquer tentativa de pensamento ruim como alguém que pula na piscina de barriga. aprendi a enfrentar meus medos há pouco tempo e fico feliz em te dizer isso: odeio esta insegurança rasa e este silêncio de desconversa toda vez que eu falo que a namorada do vizinho pegou o elevador comigo segurando um buquê de flores. não sei o que estamos fazendo aqui e isto me tonteia. enquanto isso, você põe umas músicas que um dia eu adoraria ter dançando com você mas que não houve convite. e eu? passo pano. danço com a vassoura.

quando te vejo debruçado do outro lado do cômodo em posição fetal com um bloquinho no joelhos penso “ah talvez nós ainda possamos dar certo a poesia nos uniu e a poesia é maior do que o próprio amor” e aí você rasga seja lá o que for que você tenha escrito e joga minhas esperanças na lata de lixo laranja que eu escolhi trazer pra cá quando me mudei.

penso que perdi o tesão antes mesmo de te ver de cuecas já que era algo tão acumulado em mim prestes a explodir que acabou murchando de tanta saliva e neurônio gastos me empenhando em poesia brocha. o resultado era previsível: se você gasta seu tesão com papel e caneta, suas mãos estão sendo usadas da maneira errada.

dito tudo isto, me aproximo de você uma última vez para ter a certeza de que daqui a pouco eu posso ligar para minha mãe e perguntar se meu quarto continua vago. ou talvez acabe num motel, fedendo a vinho branco roubado da nossa geladeira com alguém que não gravou meu nome. você nunca soube o quanto eu sou louca por você porque nunca perguntou.

te beijo a nuca e pergunto que horas você vem pra cama. já passam das duas e o cafezinho que vem após o jantar ainda está na mesa, acumulando formigas. você diz que não consegue se concentrar no fim desse texto e pergunta se eu assisti o novo filme da sofia coppola. queria responder que eu quero que a sofia coppola se exploda e leve você junto. mas digo que não - assisti o novo do fernando meirelles.
você diz que já vem. eu aceno. vou de encontro a mais um fim de dia onde não sei dizer se ainda te amo ou se o amor morreu dentro desse teu olhar de desdém.

já passam das três e tudo se tornou um borrão. acabou.

nosso filme não teria feito sucesso, de qualquer jeito.